quinta-feira, 1 de abril de 2010

Quimbanda

Entendendo a Kimbanda

O termo “kimbanda” sempre sugeriu mistério e teve dificuldades de aceitação social por que desde o surgimento das manifestações religiosas no Brasil nunca houve alguém que apresentasse uma estrutura teológica concreta, e que agradasse os adeptos de um modo geral.

Temos um valioso histórico de “tradição oral” que pode mudar drasticamente de região para região, mas, no entanto, a essência daquilo que se entende por Quimbanda, se observado por uma lente mais ampla, verificamos que os espíritos dessa ordem formam uma egrégora magística e iniciática, mas antes de tudo, flexível. O que independente da estrutura teológica em que estejam inseridos, estarão agindo, atuando, de acordo.
Eles representam o arquétipo do inconsciente, a forma oculta e mística do homem e da mulher. Trabalham o que se denomina “poder oculto” ou “verdade”. É o próprio homem sobre “ele mesmo”, entendendo o mundo a sua volta como um “reflexo dele” ou “sombra”. Daí por que entendemos Exu como “o próprio homem despido de carne”, visto que já passou por aqui, viveu > morreu e se tornou um Sábio.
Na Kimbanda não existe um “Deus” soberano. O que existe são referências sincréticas conforme as egrégoras que se formaram ao longo dos anos, nas mais diferentes vertentes doutrinárias e raízes africanistas. Que embora se diferenciem pelo regionalismo, se afunilam em essência quando a manifestação de espíritos da “ordem de comando” apresentam esclarecimentos sobre sua atuação e concepção filosófica.
Geralmente se mostrando abertos aos diferentes níveis de entendimento da vida, e quase sempre, reportando-se às Leis básicas do universo como verdade. Um exemplo é quando um Exu diz: “Toma conta e presta conta”. Significa que tanto o homem quanto seus Guias são responsáveis por suas ações. Que não será uma “deidade” a fazer cobranças, e sim “ele mesmo”, pois é parte de um universo onde ele “também é o universo” e, por conseguinte, a Lei.
Se observar uma formiga trabalhando por um período, vai se encher de compaixão e admirar aquela forma de vida, mas se esta mesma formiga lhe morder, imediatamente você irá esmagá-la. Não haverá compaixão nem admiração. É a resposta à dor, causa e efeito, ação e reação. Ou seja, você mesmo estará exercendo a Lei por mero instinto.
Interessante é que praticamente ninguém sente “culpa” por esmagar uma formiga, mas se sente culpado por esmagar o semelhante. Neste caso, estamos saindo da esfera das Leis e entrando no “consenso moral” de “certo e errado”.
Aí é que reside toda a diferença entre “realidade e subjetividade”, que embora seja um caso óbvio, inevitavelmente as pessoas acabam misturando “alhos com bugalhos”.
Se pararmos para analisar o trabalho de um Exu ou Pombagira, a irradiação energética sobre a coroa de um médium, ao longo de muitos anos ocorre uma profunda transformação psicológica, e até ideológica. Como se uma “libertação” dos grilhões gerados pelo convívio social. A “moralidade coletiva”.
O primeiro aspecto visível é um considerável desenvolvimento da autoconfiança que, por via de regra, resulta na serenidade. Esta mesma virtude possibilita o discernimento entre o certo e o errado, porém desta vez, em um nível mais elevado de consciência.

Não pretendo com isso afirmar que um kimbandeiro é um “deus”, mas que de qualquer modo, assim entendemos a vida. Somos deuses e demônios, tudo em um único “Ser”. O saber discernir entre a realidade e a subjetividade é o primeiro passo para entender a Kimbanda.




TEXTO RETIRADO DO BLOG ''EXUBANDEIRO''